quinta-feira, novembro 21, 2024
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Movimento pelo fim da escala 6×1 mobiliza protesto na Assembleia

Atos unificados nesta sexta-feira vão reivindicar revisão da leis trabalhistas

Um dos temas mais discutidos do momento nas redes sociais, o fim da escala 6×1 tem mobilizado trabalhadores de todo o Brasil em torno do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que se intensifica com atos unificados marcados nas principais cidades do País no Dia da Proclamação da República, nesta sexta-feira, 15 de novembro. No Espírito Santo, a manifestação será às 14h, na Assembleia Legislativa, em defesa da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria da deputada Erika Hilton (Psol-SP), que propõe a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais, sem diminuição salarial.  

O movimento, que começou de maneira espontânea nas redes, ganhou força e projeção nacional após um vídeo compartilhado por Rick Azevedo, balconista de farmácia, que desabafou sobre a angústia acumulada em doze anos trabalhando na exaustiva escala 6×1 em diferentes empregos. “Quero saber quando é que nós, da classe trabalhadora, iremos fazer uma revolução nesse país relacionada à escala 6×1. É uma escravidão moderna. Se a gente não se revoltar, colocar a boca no mundo, meter o pé na porta, as coisas não vão mudar,” declarou.  

A revolta sincera viralizou no TikTok e ecoou em milhões de pessoas que compartilham da mesma realidade. A partir da comoção, o movimento VAT tomou forma, impulsionado por campanhas tanto nas redes sociais quanto nas ruas e um abaixo-assinado que ultrapassa 2,3 milhões de assinaturas, para que o Congresso Nacional revise a escala 6×1. A mobilização deu visibilidade à causa e levou o fundador do VAT a ser eleito o vereador mais votado do Psol no Rio de Janeiro, com quase 30 mil votos. 

Diante da repercussão e apoio popular, a deputada Erika Hilton formalizou a PEC. Para iniciar a tramitação, o texto precisa do apoio formal de pelo menos um terço dos deputados, ou seja, 171 assinaturas, para ser discutido nas comissões e seguir para votação. A proposta já conta com 134 assinaturas, o que representa cerca de dois terços do total necessário, e a pressão continua para alcançar a meta e avançar na Câmara dos Deputados.  

No Espírito Santo, o movimento VAT tem ido às ruas para conversar diretamente com os trabalhadores, promovendo panfletagens sobre os impactos negativos da jornada 6X1. A coordenadora estadual, Júlia Alves, ressalta que o movimento foi uma “luz no fim do túnel” para muitos trabalhadores, inclusive para ela, que atua como agente de chat em telemarketing. “A escala 6X1 é uma escravidão moderna. Nesse regime se trabalha apenas para sobreviver, e isso tem adoecido as pessoas, pois elas não vivem”, denuncia. 

Ela enfatiza que a recepção à campanha nas ruas tem sido muito positiva, com os trabalhadores ansiosos para que a mudança se concretize, especialmente pela possibilidade de ter dois dias de folga por semana. “As pessoas nessa escala vivem super cansadas e quase sem tempo para nada, então a revisão vai mudar bastante coisa. Teremos mais tempo livre para descansar, passar tempo com a família, cuidar da saúde”, projeta.

A sobrecarga de trabalho, característica da jornada 6×1, tem gerado sérios impactos à saúde dos trabalhadores, como evidenciam os números de afastamentos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). De janeiro a setembro de 2024, mais de 2,6 milhões de brasileiros precisaram se afastar do trabalho devido a problemas de saúde relacionados ao desgaste físico e mental. No Espírito Santo, o número de afastamentos chegou a 55,5 mil no mesmo período. As doenças mais recorrentes entre os afastados incluem dorsalgia, transtornos ansiosos e episódios depressivos, condições que refletem os danos causados pela rotina de trabalho extenuante. 

Bancada capixaba 

Dos dez deputados federais do Espírito Santo, somente dois já assinaram a proposta: Jackeline Rocha e Helder Salomão, ambos do PT. Jackeline destacou a importância de lembrar que “todos os direitos foram conquistados com muita luta e que, para superar a herança escravocrata, é necessário dar um basta ao projeto de uma sociedade marcada pela ‘servidão’, onde a classe trabalhadora continua sendo explorada”. 

Helder Salomão também declarou apoio e se comprometeu com a causa por melhores condições de trabalho e menos exploração: “Os trabalhadores podem contar comigo nesta luta”, reforçou. 

‘Fala desinformada’

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho (PT), se manifestou nessa segunda-feira (11) sobre o fim da escala de trabalho 6×1 e afirmou que a questão deve ser tratada em “convenções e acordos coletivos” entre empresas e empregados. A postura gerou críticas de apoiadores do movimento e do vereador Rick Azevedo, que classificou a fala do ministro como desinformada.

Em suas redes sociais, o idealizador do movimento destacou que as pressões comerciais frequentemente distorcem os acordos sindicais. “Ignorar que a escala 6×1 precisa de regulamentação séria e independente é desrespeitar a realidade da classe trabalhadora, que sofre com jornadas exaustivas e pouca representação autêntica. Esse pronunciamento não só demonstra desconexão com as necessidades do trabalhador, mas também perpetua um sistema que o explora. Esperamos mais responsabilidade e compromisso de sua parte”, pontuou Rick Azevedo, em resposta ao pronunciamento do ministro na rede social X.

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